Dou Lingyun (2º à esquerda), formado em bioengenharia pela Universidade de Ciência e Tecnologia de Huazhong, posa para uma foto de grupo com colegas de classe num café Starbucks em Wuhan, província de Hubei, centro da China, em 18 de junho de 2024. (Foto: Wu Zhizun/Xinhua)
"Posso tomar uma xícara de café com leite de baunilha, por favor? Grande." À medida que o cliente fala, a frase é convertida por um sistema de reconhecimento de voz e aparece numa tela eletrônica do café. Ao receber a mensagem, a barista Chen Yuanyuan logo produz uma xícara de café, que ela entrega com um sorriso.
À primeira vista, este Starbucks na província de Hubei, no centro da China, poderia ser qualquer café moderno em qualquer lugar da China. No entanto, os recepcionistas e baristas do local são pessoas com deficiência auditiva e os métodos de comunicação foram adaptados em conformidade.
No mês passado, o 18º café “silencioso” da Starbucks foi inaugurado em Wuhan, capital de Hubei, cinco anos depois que o primeiro desse tipo entrou em operação em Guangzhou, no sul da província de Guangdong. Um total de três baristas com deficiência auditiva foram recrutados em Wuhan, incluindo Chen.
"Sempre quis trabalhar num café assim em minha cidade natal. Agora meu sonho se tornou realidade", disse Chen, de 42 anos, à Xinhua em linguagem de sinais.
Ela sempre quis ser barista, mas sua ambição foi encorajada pela chegada do primeiro Starbucks “silencioso”. “Percebi que ainda poderia ser barista mesmo sem ouvir”, explicou ela.
Chen começou como aprendiz numa cafeteria Starbucks, onde aprendeu a fazer café. Foi um trabalho desafiador para alguém com deficiência auditiva. Por exemplo, um barista normalmente avalia quando o leite está totalmente espumado pelo som produzido pelo tubo de vapor. No entanto, Chen só pode julgar pela visão e pela sensação da temperatura com as mãos.
“Todas as dificuldades podem ser superadas desde que você ame esta carreira”, disse ela.
O novo Starbucks “silencioso” em Wuhan está localizado em frente ao prédio da Federação de Pessoas com Deficiência de Wuhan. O café conta com acesso para cadeiras de rodas, equipamento de reconhecimento de voz, tablets de escrita e diagramas em linguagem de sinais para diversos tipos de bebidas, que ilustram o ambiente acolhedor do local.
“Queremos fazer deste café uma janela para a sociedade compreender os ‘grupos especiais’ e um espaço confortável para os deficientes auditivos”, disse Guo Chenxi, de 26 anos, proprietário do café.
Ela observou que também planejam ter aulas públicas de língua de sinais regularmente, a fim de construir uma ponte que facilite a comunicação entre pessoas com deficiência auditiva e as demais.
Depois de inaugurado, o café logo se tornou popular. No primeiro dia, o repórter da Xinhua viu mais de 10 clientes em frente ao café conversando em linguagem de sinais, vindos de diversos pontos da cidade.
“Muitos de nós tivemos aulas públicas de preparação de café organizadas pela Federação de Pessoas com Deficiência de Wuhan”, disse Liu Hua à Xinhua, um cliente com deficiência auditiva de 48 anos, digitando as palavras em seu telefone. “Também queremos ser baristas. Então viemos dar uma olhada e aprender”.
Hu Huidong tirou uma licença de sua empresa para ir com seu irmão mais novo, que tem deficiência auditiva. "Este é o primeiro 'café silencioso' em Wuhan, que é uma plataforma para os baristas com deficiência auditiva mostrarem o seu talento. Gostaríamos de expressar o nosso apreço", disse ele.
Dou Lingyun, formado em bioengenharia pela Universidade de Ciência e Tecnologia de Huazhong, precisou de uma hora para chegar ao café. “Eu era presidente da sociedade de língua de sinais da nossa universidade e estive envolvido em diversas atividades para pessoas com deficiência”, disse ele. “Agora que estou deixando esta cidade, quero apoiar amigos que têm deficiências auditivas e de fala. Espero que eles obtenham mais compreensão e ajuda”.
Na China, existem cerca de 85 milhões de pessoas com deficiência. Durante o período do 13º Plano Quinquenal (2016-2020), mais de 50.000 estudantes com deficiência ingressaram em instituições de ensino superior, enquanto mais 1,81 milhões de pessoas com deficiência encontraram emprego, segundo dados oficiais.
Em 2022, o Conselho de Estado emitiu um plano de acção trienal para promover o emprego de pessoas com deficiência, estabelecendo o objetivo de criar 1 milhão de novos empregos para pessoas com deficiência até ao final de 2024.
De acordo com a Federação Chinesa de Pessoas com Deficiência, até ao final de 2023, mais de nove milhões de pessoas com certificados de deficiência estavam empregadas, com cerca de 544 mil pessoas conseguindo emprego no ano passado. Novas indústrias e novos modelos baseados na inovação tecnológica permitiram-lhes trabalhar em mais setores.
"Eles não só são capazes de fazer esse trabalho nos bastidores como designers e agentes de atendimento ao cliente, mas também estão obtendo mais oportunidades como baristas, torrefadores, entregadores, entre outros", disse Zhang Yong, que é chefe do departamento de educação e emprego da Federação de Pessoas com Deficiência de Hubei.