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Do lixo à luz, linha chinesa de incineração gera eletricidade no Brasil

Fonte: Xinhua    10.11.2025 08h20

Nos arredores de São Paulo, caminhões pesados circulavam em Barueri, transportando chaminés de aço vindas da China, alinhadas com precisão. Em breve, essas estruturas se transformariam na primeira usina de geração de eletricidade a partir da incineração de resíduos do Brasil.

Em julho deste ano, a usina Waste-to-Energy entrou oficialmente na fase de instalação e construção, com previsão de entrada em operação em 2027. O projeto foi concebido para processar 870 toneladas de resíduos sólidos por dia, com capacidade instalada de 19,1 megawatts, suficiente para tratar o lixo gerado por mais de 740 mil habitantes e fornecer eletricidade a cerca de 320 mil pessoas.

Baseada na incineração de resíduos, a usina combina a inovação verde chinesa com a busca brasileira por soluções sustentáveis, prometendo transformar toneladas de lixo em energia limpa. O complexo ocupará aproximadamente 37 mil metros quadrados e simboliza uma parceria concreta entre tecnologia e sustentabilidade.

A linha de incineração, o coração da usina, está sendo construída em conjunto pela PowerChina SEPCO1 Electric Power Construction Co., Ltd. e pelo Northwest Electric Power Design Institute Co., Ltd., subordinado ao China Power Engineering Consulting Group.

Segundo Wang Tonglei, engenheiro da SEPCO1 e gerente do projeto, o empreendimento reflete o esforço conjunto de integrar a tecnologia verde da China às necessidades e normas brasileiras. O objetivo é oferecer uma solução de duplo benefício, que combine gestão ambiental eficiente com geração de energia limpa.

O projeto surgiu em resposta a um desafio crescente. Barueri é um importante polo comercial, que abriga sedes de grandes empresas multinacionais. O rápido desenvolvimento, no entanto, trouxe novos desafios, especialmente na gestão de resíduos sólidos.

"O município precisava de autossuficiência na gestão de resíduos, já que hoje encaminhamos os resíduos para outro município", disse Ivan Vanderley, secretário adjunto de Meio Ambiente de Barueri, acrescentando que a usina representa a solução tecnológica para essa dependência, permitindo não apenas a autogestão dos resíduos, mas também a produção de energia limpa em escala municipal.

O processo tecnológico, baseado em sistemas consolidados de incineração chineses e ajustado às regulamentações ambientais do Brasil, inclui uma série de etapas rigorosamente controladas.

Os resíduos passarão por misturadores mecânicos e fermentação natural em poços fechados antes de seguirem, por garras automatizadas, aos fornos de grelha mecânica, onde serão queimados em estágios.

Os gases resultantes serão purificados em várias fases, incluindo torres de reação semi-seca e filtros de mangas, garantindo emissões dentro dos padrões ambientais.

Para Rodrigo Bombonatto Assumpção, responsável pela implantação do projeto, que visitou diversas usinas na China, o modelo representa um avanço tecnológico importante. A experiência chinesa em engenharia e operação industrial foi essencial para adequar o projeto às condições e regulamentações brasileiras, afirmou.

O Brasil, observou Bombonatto, enfrenta desafios crescentes no tratamento de resíduos, sobretudo nas áreas urbanas densamente povoadas, onde ainda é comum a queima a céu aberto. A expectativa é que a experiência de Barueri sirva como referência nacional, mostrando que é possível transformar resíduos em uma fonte sustentável de energia.

Cidades de todo o país acompanham de perto o andamento da usina e avaliam se o modelo pode ser aplicado em locais com alta produção de lixo e espaço limitado para novos aterros, acrescentou Vanderlei.

A energia verde é uma prioridade comum para Brasil e China. O Brasil dispõe de abundantes recursos renováveis, enquanto a China acumula vasta experiência em tecnologias sustentáveis. A parceria entre os dois países mostra que a cooperação tecnológica pode transformar desafios ambientais em soluções concretas e sustentáveis.

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