Opinião: De Davos a Boao, a globalização precisa de um estímulo num momento crucial

Fonte: Diário do Povo Online    09.04.2018 10h11

Há mais de um ano atrás, o Presidente Xi Jinping defendeu de forma vigorosa o comércio livre no encontro anual do Fórum Econômico Mundial em Davos, impressionando o mundo com o inequívoco apoio da China à globalização.

Essa posição é hoje mais relevante.

A globalização, o processo histórico que tem vindo a aproximar diferentes países e povos ao longo dos últimos cinco séculos, está agora debaixo de fogo, sendo encarado com cada vez mais dúvidas. O isolacionismo está medrando, juntamente com o protecionismo comercial e o chauvinismo econômico.

Em particular, o ímpeto protecionista de Washington, é não somente preocupante, mas nocivo. Ao longo do último ano, os EUA têm tentado explorar concessões dos seus parceiros comerciais ao impor-lhes várias tarifas punitivas.

A famigerada doutrina “América Primeiro”, promovida pelo Presidente Donald Trump em Davos, representa um desafio sério às regras do sistema de comércio multilateral, outrora impostas pelos próprios EUA.

Durante este momento crucial, no qual a globalização precisa desesperadamente de adeptos, o Fórum Boao para a Ásia está preparando o palco para o Presidente Xi reforçar a posição da China.

Não pode haver ocasião melhor. Boao, em tempos uma aldeia piscatória na província chinesa de Hainan, tornou-se hoje em dia, através da sua reunião anual, um dos portais dos países asiáticos para o resto do mundo.

A emergência deste resort de praias é apenas um exemplo da ascensão da China, no passado um país isolado e subdesenvolvido, até se tornar a segunda maior economia do mundo. A fórmula mágica desta abertura da China para o exterior é a sua participação ativa na globalização da economia mundial.

Ironicamente, o mundo ocidental, onde a globalização originou, tornou-se agora hostil a este fenômeno, de diversas formas. Os céticos argumentam que a globalização, que se reflete no comércio livre e aberto, está comprometendo postos de trabalho e estilos de vida nesses países.

Parece que os responsáveis pela elaboração de políticas nesses países estão partindo desses sentimentos cada vez mais generalizados — ou porque acreditam também nestes argumentos, ou porque querem angariar votos.

Todavia, todos aqueles que se opuserem à globalização tendem a esquecer que o ocidente continua sendo o seu maior beneficiário.

Os países ricos continuam tendo o maior número de corporações multinacionais, como a Apple, McDonald’s ou IKEA. Estas empresas têm operações no exterior, onde os custos operacionais são mais baixos, para propalar os seus lucros e trazer de volta a maior fatia destes, deixando aos operários nos países em desenvolvimento apenas quantias irrisórias.

Quando os participantes de Boao trazem os seus iPhones para o fórum, alguns cálculos seriam produtivos antes de passarem a abordar o tópico da globalização.

Portanto, o que levou afinal à incubação de sentimentos anti-globalização no ocidente? A razão principal é a cada vez maior distribuição econômica, apesar do fato que esta é cada vez maior.

De acordo com o Relatório de Desigualdade Mundial do ano passado, publicado pelo Laboratório de Desigualdade Mundial (World Inequality Lab) na Paris School of Economics, 1% dos intervenientes econômicos arrecadaram 28% de ganhos agregados na América do Norte e na Europa Ocidental entre 1980 e 2016, enquanto que os 50% da base apenas conseguiram 9%.

Face a esta clivagem cada vez maior, os políticos de alguns países ocidentais falharam em conseguir delinear soluções para os seus problemas domésticos. Ao invés disso, procuram bodes expiatórios no exterior, culpando países estrangeiros pelo desemprego e explorando o populismo.

Este ano assinala o 40º aniversário da política de reforma e abertura da China. Por ocasião do fórum Boao, o Presidente Xi deverá revelar várias novas medidas reformistas, de acordo com o chanceler chinês, Wang Yi. Tal demonstra que, apesar do crescente sentimento antiglobalização em todo o mundo, a China continua sendo um apoiante desta corrente e de uma ordem mundial mais justa. 

(Web editor: Renato Lu, editor)

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